13.5.13

"Se por acaso te perguntas sobre se penso em ti, depois deste tempo todo, pois que saibas - se de alguma forma puderes mesmo saber - que a resposta é "todos os dias". Não há em mim motivo mais frequente. Algures durante o dia, sou subtraído ao mundo das pequenas coisas. Foste o meu mapa, não sei fugir sem ti. Sei apenas, não me perguntes porquê, que não podes senão sentir - pelo menos uma parte de ti - o mesmo peso das minhas algemas. A tua prisão é a mesma que a minha. Como correr para a liberdade se a gravidade nos ata às correntes que somos? Em todos os momentos em que estamos com os outros, estamos meramente em nós. Indignos. Vemo-nos constantemente em sonhos, só isso. E um dia nada, nem sequer um desenho teu numa reflexão parada no ar. A memória que nos persegue devolve ao menos o conforto de se saber ter praticado o melhor crime que há."

Gáston Peke, in Cuadernos del todo